quinta-feira, 28 de abril de 2011

Como a Microsoft caminha na 'nuvem'

Valor Online
João Luiz Rosa | De São Paulo
15/04/2011
 
Estratégia: Em meio ao esforço para transformar software em serviço, companhia conquista mil clientes no país


Nuvens no horizonte costumam ser sinal de tempestade, mas a Microsoft não tem nenhuma intenção de afastar as que estão no seu caminho. Ao contrário, seus executivos parecem loucos para entrar na chuva. O temporal, no caso, é o da computação em nuvem - o modelo pelo qual os softwares são acessados via internet e cobrados como se fossem um serviço, na forma de um aluguel mensal.
O formato, que vem mudando rapidamente a maneira como empresas e pessoas armazenam e consultam dados, representa uma enorme pressão para Microsoft e seu modelo de negócio, baseado na venda de licenças e na instalação dos programas nas máquinas dos usuários.
Por isso mesmo, a companhia americana está se empenhando tanto em acompanhar a tendência. Em um ano, desde que lançou no Brasil sua primeira iniciativa em nuvem para empresas, a Microsoft conquistou mil clientes comerciais (todos pagantes, portanto), o equivalente a mais de 100 mil usuários no país. Na relação, estão grandes grupos, como Camargo Corrêa e Gol.
A iniciativa, conhecida pela sigla em inglês BPOS (Business Productivity Online Suite), não significa que a Microsoft tenha abandonado seu modelo tradicional. No segundo trimestre do ano fiscal 2011, encerrado em dezembro, a companhia obteve receita recorde no período, de US$ 19,95 bilhões, com lucro líquido de US$ 6,63 bilhões. Quase tudo isso veio do sistema de licenciamento. Mas a nuvem - e o BPOS em particular - é mais do que simplesmente um produto adicional. "Este é o momento mais importante para a Microsoft nos últimos anos", diz Eduardo Campos Oliveira, gerente-geral da área de produtividade da companhia no Brasil.
Com o BPOS, os clientes podem usar sistemas como correio eletrônico na nuvem a US$ 5 mensais por usuário. Pelo dobro desse valor, estão incluídos outros produtos empresariais. As vantagens para quem usa são evidentes. "Em curto prazo, a economia com e-mail é de 10% a 15% [em comparação com o modelo tradicional de licenciamento]", diz Marcos Caldas, diretor de tecnologia da informação (TI) da Gol. "A vantagem é ainda maior no médio e longo prazos."
A economia não se deve apenas ao modelo de micropagamento, que dilui o custo da licença. As empresas também não precisam investir em equipamentos adicionais para dar conta dos programas. E pagam pela capacidade utilizada, o que permite ajustar a infraestrutura de TI à demanda.
A Startup Zetcks, empresa responsável pela venda dos ingressos para os shows do Rock in Rio, aderiu ao modelo. Com o Windows Azure, outra iniciativa da Microsoft na nuvem que está completando um ano no país, a companhia pode vender mais ou menos ingressos on-line, de acordo com o interesse do público, sem ter de desembolsar dinheiro para adquirir uma infraestrutura que, após os shows, poderia ficar ociosa.
A despeito das vantagens para os clientes, os serviços em nuvem requerem ajustes nos negócios da Microsoft. A margem de lucro é menor, reconhece Campos. Em contrapartida, a companhia passa a ter uma fonte de receita recorrente e mensal.
Como a rota é irreversível, o reforço está a caminho. Depois do BPOS, a Microsoft já colocou na nuvem outros programas, como o CRM, para relacionamento das empresas com seus clientes, e prepara-se para lançar o Office 365, o que deverá ser sua iniciativa mais ambiciosa na nuvem até agora. A proposta é somar o pacote Office, que reúne programas muito populares, como Word e Excel, aos que já existem no BPOS.
Ao lado do sistema Windows, o Office é a principal fonte de receita da Microsoft - daí a importância de que o lançamento seja bem-sucedido. Por enquanto, o Office 365 está em versão de teste, disponível apenas nos Estados Unidos. A previsão é de que o serviço desembarque no Brasil em um ano.
Se conseguir domar a nuvem, a Microsoft poderá contra-atacar vários adversários ao mesmo tempo, da pirataria aos programas gratuitos de rivais como o Google. Cerca de 80% das equipes de desenvolvimento já estão orientadas à nuvem, diz Oliveira. Na Microsoft, a dança da chuva está só no começo

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